BOM DIA
Trata-se de uma das expressões que utilizamos quando saudamos alguém. Porêm, na língua Kongo, existe entre outras a expressão: luxikamene que traduzida para português resulta em "Como tens passado?". Esta frase no kikongo idiomático é muito profunda, equivale a dizer "como passaste a noite, como chegaste até aqui, enfim como é que tem sido a tua vida e a dos teus.
ARTIGO EM CONSTRUÇÃO: DIOGO CÃO ERA MAÇON?

Dissertação Mestrado


O livro debruça-se sobre um tema inovador, que carecia de tratamento por parte das Ciências Sociais em Portugal. Resgata uma memória de África que é, naturalmente, de grande importância para um conhecimento mais cabal das sociedades e culturas sobre as quais se exerceu a acção colonizadora portuguesa. Trata-se de um tema de difícil tratamento, pois a emergência do subjectivo no discurso científico, propósito que o autor procurou desenvolver, remeter-nos-ia para uma postura antropológica pós-moderna, que, pela sua peculiaridade, exige, em princípio, de quem assim resolve proceder, uma experiência de investigação e de escrita que raramente encontramos em dissertações de mestrado.
Estamos, de qualquer modo, perante um estudo relevante que merece publicação. O autor é portador de uma experiência de terreno útil a todos quantos se interessam pelas questões africanas. Estou a lembrar-me particularmente dos que se têm dedicado ao estudo das literaturas africanas, carentes, muitas vezes, deste tipo de testemunhos para melhor entendimento e enquadramento teórico do que estudam.

Professor Catedrático
José Carlos Venâncio

Para obter um exemplar do "Comerciante do Mato", envie um email para josecarlosoliveira.eu@gmail.com.
Poderá visualizar o capítulo "O Funante, dito Comerciante do Mato" em formato PDF clicando aqui.

À guisa de prefácio

“O Comerciante do Mato” é o título da dissertação que o Dr. José Carlos de Oliveira defendeu para o Mestrado em Estudos Africanos.
Português ex-residente no norte de Angola, filho dum acreditado comerciante desta província, e ex-comerciante ele mesmo, o Autor domina soberanamente a matéria e nela navega com o à vontade de peixe na água.
Embora não haja visível proximidade nem qualquer parentesco entre o mato de Angola e um mestrado em Lisboa, o tema escolhido, além de original, é na matéria de sobremaneira esclarecedor, e parece-me que vem preencher uma lacuna na história da cultura não só angolana como também lusíada.
O angolano conguês caracteriza-se por um pragmatismo imediatista, que faz dele um comerciante nato. Investimentos que façam esperar muito tempo pelo lucro não o seduzem. Ele quer investir hoje e lucrar amanhã. Daí, a sua sedução pelo comércio, mesmo desde criança.
Por sua vez, os portugueses em Angola, como quaisquer outros colonos europeus em África, encontraram no comércio a via mais directa para se estabelecerem economicamente e se integrarem no meio do povo. De tal maneira isto marcou a imagem do colono que, ainda hoje, para certos africanos, o caminho mais curto da sua promoção socioeconómica é ser funcionário ou comerciante.
O papel da mulher no comércio de Angola é de vital relevância. Por isso, a alusão feita à mesma pelo autor reveste felicíssima pertinência. Se houvesse de elaborar uma tese de doutoramento, bem poderia escolher para seu título “A comerciante das praças”. É que em Angola, como no resto da África Ocidental, cerca de 80% dos produtos agrícolas são comercializados pela mulher.
Só me resta fazer votos para que o ” Comerciante do Mato” receba o acolhimento que bem merece, como capítulo integrante da Sociologia africana que não pode deixar de ser.

Uíje, 21 de Dezembro de 2003
Francisco de Mata Mourisca
Bispo do Uíje


Artigo de Opinião sobre o livro


Extraído do jornal “A voz de Alcobaça” de 31/10/2004

O Comerciante do Mato – uma personagem pacífica na guerra de África

Com o comércio tradicional quase asfixiado pelas grandes superfícies, que vão assentando arraiais em todas as terras portuguesas, nas quais os cartões plásticos, as senhas e o dinheirinho à vista, pressurosamente arrumado na gaveta da caixa registadora por meninas fardadas que mais parecem hospedeiras de bordo, com chapinha ao peito e um encomendado sorriso nos lábios, substituíram o ruinoso livro de assentamento de dívidas dos merceeiros de lápis na orelha, com o comércio tradicional – dizíamos – em sérias dificuldades, é preciso ter coragem (e categoria, também!) para trazer à superfície e falar publicamente de um tema tão primitivo e longínquo como “O Comerciante do Mato”, neste caso e mais exactamente, o comércio praticado no interior de Angola e Congo – antes e durante uma guerra em que as partes beligerantes se serviam dos mesmos fornecedores!…
O Hotel D. Inês de Castro, em Alcobaça, testemunhou na pretérita sexta-feira, dia 22, uma curiosa e interessante palestra promovida pelo Rotary Clube, sob a presidência de Manuel José Costa Coelho da Silva, que ali levou meia centena de atentos participantes que assistiram a uma autêntica lição de história africana, onde os Portugueses desempenharam papel de relevo, no melhor e no pior. Como orador convidado, esteve o antropólogo José Carlos de Oliveira, senhor de uma invulgar experiência sertaneja, que lhe garantiu um profundo conhecimento da cultura indígena – expressa no livro que escreveu -, cujas seculares tradições conhece como a palma das suas mãos.
O documentário exibido é em todos os sentidos profundamente elucidativo “Daquela África” e os documentos historicamente ricos de que é detentor, mercê de incessantes buscas e pesquisas, a par da incomensurável riqueza humana que possui, caldeada pelo seu contacto de décadas com as populações, nomeadamente do interior norte angolano, transformaram o seu espólio material e espiritual num repositório histórico da presença portuguesa em África de importância nacional.
A dissertação atravessou séculos e peregrinou pelo mato da imaginação dos que por lá andaram como militares, e dos que, nunca lá tendo ido, sentem o fascínio dum continente divinamente dotado e tão humana e belicamente martirizado.
O palestrante soube expor e responder com elegância e inteligência àqueles que o inquiriram -Antero Leal Cerol, que fora cliente de seu pai (!) quando cumpriu serviço militar naquela região; José Trindade, que trabalhou imenso com o continente africano; António José Nobre, admirado como é que o pai Oliveira, num teatro de guerra, conseguira estar de bem com Deus e com o Diabo – (“Hoje não se colocam flores aos pés daqueles que foram nossos inimigos?…” – perguntou, respondendo ?!); Carlos Feliciano, “então, , os indígenas não tinham já uma civilização antes de aparecerem os missionários portugueses?”; e José Pereira F. Alexandre, “Afinal, o que fizemos e o que ganhámos com África?”.
Nenhuma pergunta ficou sem resposta, sempre coerente, lógica e fundamentada, humana e sensível. A experiência de décadas como “comerciante do mato”, recheada de vicissitudes estoicamente partilhadas com a esposa Maria Cândida, período em que vendeu de tudo o que era possível importar da metrópole, desde fósforos a chitas, riscado, zuarte, vinho, pregos, fogareiros a petróleo (da marca Hipólito, de Torres Vedras – lembram-se ainda?), etc, etc, o palestrante enganou e foi enganado pelo preto com quem comerciava, um, utilizando o peso que não tinha por baixo o chumbo que lhe conferia legalidade, ou adulterando o vinho tão apreciado; o outro, também manhoso, deixando o milho ou o amendoim de noite expostos ao cacimbo para que absorvessem a humidade e na manhã seguinte pesassem um pouco mais…
Aos 66 anos de idade, José Carlos de Oliveira, também ele antigo militar com desempenho nos serviços de informação do exército português, prepara-se (agora, mais cuidadosamente…) para defender a tese de doutoramento a propósito deste tema que, segundo o Bispo de Uíje, D. Francisco da Mata Mourisca, “preenche uma lacuna na história da cultura não só angolana como lusíada, depois de em 1996 ter visto uma pequena tentativa reprovada, ao que parece, por ingenuamente ter dito o que pensava e o muito que sabia. Em 1996!!
Que o seu conhecimento, a sua coragem e a sua experiência de vida sejam, desta vez, bem sucedidos!

J.M.P.