Fotografia
Nº22 D. Pedro V conhecido entre os seus
por Ntotila[1]
O reverendo John H.
Weeks, antecedeu em Banza
Kongo o reverendo George Grenfell, dentro das estruturas da
Baptist Missionary Society que, por sua vez, antecedeu por 3 anos a prolongada
permanência do missionário católico António Barroso na capital Kongo a partir
do terceiro quartel do século XIX. Qualquer deles, conheceu de sobremaneira, as
vicissitudes que tiveram de passar para conseguirem manter as relações
amistosas com políticos e homens de negócios
kongo. Naquele tempo, as notícias tanto de Inglaterra como de Portugal
demoravam muitos meses a chegar à foz do rio Zaire. E por vezes, quando aí
chegavam, já algumas resoluções haviam sido localmente tomadas e os
missionários mais do que ninguém, tinham de encontrar soluções adequadas à sua
continuada permanência.
Um ilustre kongo, com
reputação reconhecida como homem de negócios era Elelo,
o Rei dos Panos (lele em kikongo). O Reverendo Weeks, descreve este
personagem [2] que provinha de uma
família da mais alta linhagem, os Katendy
e tinham como lema: katendy
katendwa nzala o makanda manene, que queria dizer aproximadamente o
seguinte: as unhas de Katendy não deviam de ser cortadas ou o seu clã morreria,
por outras palavras, nunca se dar por vencido e não se submeter jamais a
humilhações. Por nós, admitimos que esta questão se prenda com ‘não sujar as
mãos’, fosse com o que fosse, razão para as unhas crescidas. Estes epítetos
laudatórios e títulos nobiliárquicos, reflectem de sobre maneira, o ascendente
dos valores ocidentais e como os kongo os assumiam. Mesmo a questão do título
de marquês, que antigamente só era atribuído a quem comandava os guardas das
marcas ou fronteiras de um Estado. Só a alta nobreza o podia utilizar e acima
dessa honraria só a de duque havia, uma vez que o título de conde lhe estava
logo abaixo. Assim, antes de vir a ser D.Pedro V de Água Rosada, Elelo era portanto Wene Katendy, Marquês de Katende para o governo de Luanda. Prova
que as diplomacias (tanto inglesa como portuguesa) nada deixavam ao acaso na
transformação da ideologia Kongo,
O ultimo rei do Kongo, que conservou todas as prerrogativas
foi D. Pedro V ou D. Pedro de Água Rosada, no reinado do qual a Conferência de
Berlim começou o esfacelamento dos seus domínios e em que se efectuou a
reocupação de S. Salvador, por tropas e autoridades portuguesas!
O reverendo Weeks, afirma
ter acompanhado na altura, as formalidades da compra do título de marquês e uma
das condições para a sua posse prendia-se com a capacidade económica do
pretendente ao título. Deveria ser suficientemente rico, para ser o titular. Se
na altura da sua morte o seu legítimo herdeiro não tivesse posses para utilizar
condignamente a qualificação, ou tivesse alguma razão para não querer usá-la,
podia com consentimento do rei vendê-la
a outro chefe, enquanto este vivesse.
Esta condição não permitia ao seu herdeiro entrar directamente em posse do
título, salvo se tivesse permissão da família que originariamente o detinha, e
mesmo assim, para que essa autorização se formalizasse deveria haver o
pagamento de um valor estipulado. Caso tal não acontecesse, o rei intervinha e
impossibilitava a transferência, o que não impedia que o monarca deixasse de
receber em qualquer circunstância um valioso presente oferecido pelo
destinatário da dignidade.
Neste caso específico,
foi enviado um “embaixador” para solicitar ao rei a concessão do título,
levando de presente [3] “twenty pieces of very good cloth containing
twelve yards each, three goats, one large pig, and four barrels of gunpowder”
que na altura teriam o valor de 10 libras . Como curiosidade deixamos esta nota:
o importante eram as vinte peças de pano e os barris de pólvora. Iniciavam-se
assim os passos fundamentais para que o Marquês de Katenda, o futuro Ntotila,
se viesse a legitimar como D.Pedro V de Água Rosada.
Era um homem alto e
gordo, a tal ponto obeso, nos últimos tempos, que só saia em cadeira de rodas,
oferta dos missionários ingleses. Era bom para a sua gente, simpático e tratável e mostrou-se sempre
amigo dos portugueses a quem era reconhecido, por dever-lhes o trono, de que se
apoderara o seu rival Álvaro Dongo.[4]
Deverá ter havido pouca
correspondência epistolar, trocada entre o
Ntotila Kongo D. Pedro V e o rei de
Portugal D. Luís, de qualquer modo, essa correspondência era sempre escrita
pelo secretário do Ntotila. Admitimos
que o missionário superior da igreja Católica orientasse este tipo de relações.
O documento que se segue foi microfilmado a nosso pedido no Arquivo histórico
ultramarino.[5]
Esta secção toma invulgar
importância no contexto da política internacional em terras do Kongo, pela
quantidade e qualidade das informações conseguidas. A organização dos dados
contribuem, estamos certos, para a compreensão das relações políticas e sociais
que se manifestaram na zona, desde o limiar do 3º quartel do século XIX até à
ocupação efectiva pelas potências ocidentais interessadas. O fenómeno não
deixou de repercutir-se dada importância das resoluções emanadas da Convenção
de Berlim de 1884/1885. Embora esta convenção marque historicamente a data da
posição de acerto final entre as potências ocidentais intervenientes nesta zona
de África, profundos conflitos bélicos se travaram e muito trabalho diplomático
antecedeu a célebre convenção.
Sem comentários:
Enviar um comentário