BOM DIA
Trata-se de uma das expressões que utilizamos quando saudamos alguém. Porêm, na língua Kongo, existe entre outras a expressão: luxikamene que traduzida para português resulta em "Como tens passado?". Esta frase no kikongo idiomático é muito profunda, equivale a dizer "como passaste a noite, como chegaste até aqui, enfim como é que tem sido a tua vida e a dos teus.
ARTIGO EM CONSTRUÇÃO: DIOGO CÃO ERA MAÇON?

3.1.4 Porquê e Para Quê o Título de Marquês de Katendy?


Fotografia Nº22   D. Pedro V conhecido entre os seus por Ntotila[1]

O reverendo John H. Weeks, antecedeu em Banza Kongo o reverendo George Grenfell, dentro das estruturas da Baptist Missionary Society que, por sua vez, antecedeu por 3 anos a prolongada permanência do missionário católico António Barroso na capital Kongo a partir do terceiro quartel do século XIX. Qualquer deles, conheceu de sobremaneira, as vicissitudes que tiveram de passar para conseguirem manter as relações amistosas com políticos e homens de negócios kongo. Naquele tempo, as notícias tanto de Inglaterra como de Portugal demoravam muitos meses a chegar à foz do rio Zaire. E por vezes, quando aí chegavam, já algumas resoluções haviam sido localmente tomadas e os missionários mais do que ninguém, tinham de encontrar soluções adequadas à sua continuada permanência.
Um ilustre kongo, com  reputação reconhecida como homem de negócios era  Elelo, o Rei dos Panos (lele em kikongo). O Reverendo Weeks, descreve este personagem [2] que provinha de uma família da mais alta linhagem, os Katendy  e tinham como lema: katendy katendwa nzala o makanda manene, que queria dizer aproximadamente o seguinte: as unhas de Katendy não deviam de ser cortadas ou o seu clã morreria, por outras palavras, nunca se dar por vencido e não se submeter jamais a humilhações. Por nós, admitimos que esta questão se prenda com ‘não sujar as mãos’, fosse com o que fosse, razão para as unhas crescidas. Estes epítetos laudatórios e títulos nobiliárquicos, reflectem de sobre maneira, o ascendente dos valores ocidentais e como os kongo os assumiam. Mesmo a questão do título de marquês, que antigamente só era atribuído a quem comandava os guardas das marcas ou fronteiras de um Estado. Só a alta nobreza o podia utilizar e acima dessa honraria só a de duque havia, uma vez que o título de conde lhe estava logo abaixo. Assim, antes de vir a ser D.Pedro V de Água Rosada, Elelo era portanto Wene Katendy, Marquês de Katende para o governo de Luanda. Prova que as diplomacias (tanto inglesa como portuguesa) nada deixavam ao acaso na transformação da ideologia Kongo, 
O ultimo rei do Kongo, que conservou todas as prerrogativas foi D. Pedro V ou D. Pedro de Água Rosada, no reinado do qual a Conferência de Berlim começou o esfacelamento dos seus domínios e em que se efectuou a reocupação de S. Salvador, por tropas e autoridades portuguesas!
O reverendo Weeks, afirma ter acompanhado na altura, as formalidades da compra do título de marquês e uma das condições para a sua posse prendia-se com a capacidade económica do pretendente ao título. Deveria ser suficientemente rico, para ser o titular. Se na altura da sua morte o seu legítimo herdeiro não tivesse posses para utilizar condignamente a qualificação, ou tivesse alguma razão para não querer usá-la, podia com consentimento do rei vendê-la a outro chefe, enquanto este vivesse. Esta condição não permitia ao seu herdeiro entrar directamente em posse do título, salvo se tivesse permissão da família que originariamente o detinha, e mesmo assim, para que essa autorização se formalizasse deveria haver o pagamento de um valor estipulado. Caso tal não acontecesse, o rei intervinha e impossibilitava a transferência, o que não impedia que o monarca deixasse de receber em qualquer circunstância um valioso presente oferecido pelo destinatário da dignidade.
Neste caso específico, foi enviado um “embaixador” para solicitar ao rei a concessão do título, levando de presente [3] “twenty pieces of very good cloth containing twelve yards each, three goats, one large pig, and four barrels of gunpowder” que na altura teriam o valor de 10 libras. Como curiosidade deixamos esta nota: o importante eram as vinte peças de pano e os barris de pólvora. Iniciavam-se assim os passos fundamentais para que o Marquês de Katenda, o futuro Ntotila, se viesse a legitimar como D.Pedro V de Água Rosada.

Era um homem alto e gordo, a tal ponto obeso, nos últimos tempos, que só saia em cadeira de rodas, oferta dos missionários ingleses. Era bom para a sua gente,  simpático e tratável e mostrou-se sempre amigo dos portugueses a quem era reconhecido, por dever-lhes o trono, de que se apoderara o seu rival Álvaro Dongo.[4]


Deverá ter havido pouca correspondência epistolar, trocada entre o Ntotila  Kongo D. Pedro V e o rei de Portugal D. Luís, de qualquer modo, essa correspondência era sempre escrita pelo secretário do Ntotila. Admitimos que o missionário superior da igreja Católica orientasse este tipo de relações. O documento que se segue foi microfilmado a nosso pedido no Arquivo histórico ultramarino.[5]

Esta secção toma invulgar importância no contexto da política internacional em terras do Kongo, pela quantidade e qualidade das informações conseguidas. A organização dos dados contribuem, estamos certos, para a compreensão das relações políticas e sociais que se manifestaram na zona, desde o limiar do 3º quartel do século XIX até à ocupação efectiva pelas potências ocidentais interessadas. O fenómeno não deixou de repercutir-se dada importância das resoluções emanadas da Convenção de Berlim de 1884/1885. Embora esta convenção marque historicamente a data da posição de acerto final entre as potências ocidentais intervenientes nesta zona de África, profundos conflitos bélicos se travaram e muito trabalho diplomático antecedeu a célebre  convenção.

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