BOM DIA
Trata-se de uma das expressões que utilizamos quando saudamos alguém. Porêm, na língua Kongo, existe entre outras a expressão: luxikamene que traduzida para português resulta em "Como tens passado?". Esta frase no kikongo idiomático é muito profunda, equivale a dizer "como passaste a noite, como chegaste até aqui, enfim como é que tem sido a tua vida e a dos teus.
ARTIGO EM CONSTRUÇÃO: DIOGO CÃO ERA MAÇON?

Preâmbulo

Aquando da conclusão da dissertação de mestrado ‘O Comerciante do Mato’ tornou-se claro que muito tinha ficado por dizer, acerca do povo zombo. Houve que deixar passar o tempo suficiente, Lumbu ka fuidi ko Lumbu , ‘o dia de hoje não mata o dia de amanhã’ dizem os kongo.



Para tornar acessível o estudo da vida dos zombo foi necessária uma deslocação a Angola, à província do Uíje, a expensas próprias, numa altura em que grassava na região a epidemia da doença de Marbourg (2005). Embora nos tivessem sugerido que não havia necessidade de voltar ao terreno, decidimos fazê-lo (por feitio do autor) e ainda porque o material etnológico existente era muito escasso e tinha, acima de tudo, uma visão vincadamente etnocêntrica devida aos valores então dominantes.

Em boa hora tomamos a decisão porquanto os elementos recolhidos especialmente em entrevistas, festividades religiosas e conversas informais nos nzandu ( as praças ou feiras rurais da hoje, província do Uíje) ) com a particularidade de terem sido gravadas, filmadas e fotografadas permitiram uma exploração e análise posteriores. A recolha de dados abrangeu, tanto quanto possível, actualizações dos zombo, que se pretenderão correlacionar e sintetizar face ao passado, presente e o caminho para o futuro, daí que a proposta de dissertação de doutoramento Os Zombo e o futuro (Nzil’a Bazombo): na Tradição, na Colónia e na Independência continuasse a fazer todo o sentido.

O assunto faz parte de mais de 55 anos de permanência entre os zombo, trinta dos quais passados com indivíduos da comunidade zombo residente em Portugal. Intercalem-se vinte anos de vida académica dedicada aos Estudos Africanos com nota especial para o povo zombo. Bastariam as razões citadas para justificar a escolha do tema, que acabaria por ficar mais ficando reforçado quando percebermos quanto o sub-grupo Zombo iria beneficiar com esta contribuição indo ao encontro do aprofundamento e actualização do seu modo de agir e pensar, ou seja, a sua cultura.
O objectivo é saber como conseguiram os zombo manter-se líderes mercantis incontestados, ao longo de séculos de história e especialmente como ultrapassaram as últimas vicissitudes de guerras que duraram mais de quarenta anos. Foram senhores da rota de negócios kongo durante a fase do mercantilismo entre as três potências regionais envolvidas: o reino do Kongo, depois os Ngola, seguindo-se-lhes a Matamba. Acrescente-se o significado que representa a dinâmica de quinhentos anos do contacto das culturas, zombo e portuguesa.

Duas ferramentas viriam a revelar-se indispensáveis (embora já o soubéssemos não prevíamos o alcance). A primeira, a aplicação do uso do nosso suficiente conhecimento da língua kikongo que, tanto em entrevistas, como em conversas informais, ao longo de duas décadas, permitiram uma maior compreensão dos laços que ligam os zombo à cultura portuguesa. Aquando das peregrinações que fizemos a Angola, mais propriamente ao distrito Uíje em 1991, para o seminário da nossa licenciatura e 2005 que resultou numa muito oportuna actualização da actual vida zombo onde esse traquejo da língua escrita, lida e falada ficou bem patente.

O conhecimento da língua kikongo beneficiou não só da tarimba da minha vida, bem como do apoio de dicionários (legado de missionários tanto católicos como protestantes) que ajudaram à compreensão das relações da língua kikongo com o kimbundo assim como do português. Sem esta particularidade muitos conceitos se teriam tornado incompreensíveis. Malinowski, após um período de aprendizagem tomava notas de campo em trobriandês, mas ao mesmo tempo, confessava:“…a dificuldade consiste em preencher rapidamente as lacunas de explicação mediante dados contextuais… um conhecimento completo de qualquer língua indígena depende mais de uma familiarização com as normas sociais e organizações culturais do que da memorização de grandes listas de palavras ou da compreensão de fundamentos gramaticais e sintácticos da língua nativa. Da segunda ferramenta fazem parte os arquivos fotográficos, os filmes e as gravações, alguns deles testemunhos histórico-sociológicos dos factos políticos, económicos e religiosos que se foram desenrolando. O seu estudo permitiu, sem sombra de dúvida, aproximar ângulos de visão e de opinião, por vezes divergentes, dos diversos intervenientes no espaço cultural zombo.




[1] Dicionário da Língua Portuguesa 5ª edição, Porto Editora. Estrado de madeira sobre que dormem os soldados destacados para guardas. Tarimbeiro, diz-se do oficial que subiu todos os postos desde soldado raso. Pejorativamente indicia sujidade, indivíduo grosseiro.

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